Sunday, April 22

De Tarde - poema de Cesário Verde

Naquele «pic-nic» de burguesas,
houve uma cousa simplesmente bela,
e que, sem ter história nem grandezas,
em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
foste colher, sem imposturas tolas,
a um granzoal azul de grão-de-bico
um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
nós acampámos, inda o sol se via;
e houve talhadas de melão, damascos,
e pão-de-ló molhando em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
dos teu dois seios como duas rolas,
era o supremo encanto da merenda
o ramalhete rubro das papoulas.


Poema genial, na minha óptica, pela simples e fluída maneira como as palavras são ditas, numa harmonia única e de extrema beleza. Haverá certamente poemas mais conhecidos, mas por isso mesmo eu apresento este aqui. Agora que começo a conhecer Cesário, começo a apreciá-lo e a estimá-lo.

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