Thursday, April 19

A actualidade e a dor de cabeça latente

Durante certos momentos, quando me perco numa fossa que há dentro de mim, dou comigo a reflectir sobre os mais variados temas. O nosso país, por exemplo. Não há na Terra sítio mais bonito, nem, diria, mais caótico. Ocorreu-me então uma coisa, já reparam que é impossível ver notícias nos dias que correm? Eu há muito que desisti. Entre tragédias e comédias, os media têm esse dom de conto de fadas, capaz de tranformar o mais brutal acidente num sketch quase puramente publicitário, concebido para o entretenimento exclusivo do espectador... Ou antes fosse, porque pelo que tenho conseguido inferir, e como o pódio do mundo televisivo jaz nessa competição berrante a que se chamou audiências, o importante é acumular pontos numa batalha frenética por atenção, é que afinal... A nossa atenção traz-lhes dinheiro. Para a merecem somos bombardiados com acontecimentos maioritariamente sensacionalistas (que escutamos deliciados, num pleno e são estado de hipnose avançada! Afinal, quem não adora um bom escândalo?), desde desastres a agoiros, e tenho de me perguntar, será que estamos total e irreversivelmente sujeitos a uma sociedade viciada no lucro, estritamente subjectiva, mas não no sentido construtivo, ou será verdade que o mundo não passa de um lugar realmente terrível, cheio de dramas romanescos? Estimo que 75 por cento do que nos chega aos ouvidos sejam más, terríveis notícias, umas três para cada boa. Definitivamente alguma coisa me escapa, porque cada vez me convenço mais que a informação quotidiana se tornou numa banal encenação de rua.

4 comments:

Anonymous said...

Caro Luis, ha muito que as boas notícias deixaram de vender jornais e de ser merecer um espaço minimamente digno nas televisões ou nas rádios. Por infeliz e decadente que pareça, a sociedade de hoje em dia preocupa-se mais em mexericar e esgravatar nas tragédias do que em assumir uma posição objectiva de relatar tanto os podres como os bons aspectos da actualidade. Uma pergunta agora: O que vende mais? Uma entrevista a uma qualquer celebridade ou um programa sobre cultura? Uma notícia sobre uma tragédia (repetida durante todo o dia sem cessar) ou um artigo sobre importantes descobertas científicas? Temo que cada vez mais a situação se agrave. Por detrás de tudo isto parece estar o objectivo que a comunicação social tem em dar a imagem de que "o mundo está perdido" e que não há nada que possamos fazer para o mudar, ao mesmo tempo que atrai a atenção das pessoas para "o novo corte de cabelo de X" ou para "a nova casa de férias de Y" em vez de motivar o interesse cultural e a motivação pelos avanços da ciência. Gerou-se um ciclo vicioso, quanto mais mostram mais as pessoas vêm e mais eles mostram, porque é isso que os alimenta. Tenho dito.

O Fugas said...

É verdade Miguel... assiste-se a uma desvalorização do objectivo,que é precisamente a base da informação bem estruturada e correcta. Entrámos numa era sensacionalista e do controlo das emoções do espectador, que apesar de tudo também serve para desmascarar os podres da sociedade. O problema é que tal parece nem produzir efeitos. As consciências são alertadas para certos factos, mas as noticias são-nos transmitidas quase sob a forma de cantiga e nem toda a gente se intressa minimamente pelo que realmente faz a diferença. O problema não se fica pelos media, abrange-nos a nós povo e governo. Digamos que em bastantes aspectos, enquanto país evoluído, estamos bastante atrasados. (Mas claro que esta situação que o texto pretende focar pode ser projectada para além das fronteiras do país).

Quomodum said...

Por isso mesmo estamos cá nós: para acabar com a ignorância que move as massas sociais.

O Fugas said...

Ou para a promover. Pelo menos 50% do que dizemos é practicamente inútil do ponto de vista práctico, falo da minha parte claro está.