Monday, October 29

Apresentação à Constança

Constança, há uma coisa que me atormenta. Há tempos que ando com este problema e, sinceramente, o que concluo é que amar é bonito, mas complexo e difícil. Eu queria poder ser livre, possuir a alegre "inconsciência" da ceifeira que Pessoa nos fala, mas a sociedade é tão cruel, tão vingativa e asfixia qualquer um. Queria poder pensar sem ser agarrado por tentáculos. Já não sei nada, sinto-me bem às vezes, outras vezes num labirinto. E é neste labirinto que a minha vida se vai desenrolando, sem saber o que quero. A escrita é um refúgio meu, e felizmente que a hei. Eu e ela somos só um. Aguardar será o melhor. Sim, certamente que o é.
Eu gosto de ir para a serra, passear-me, sentar-me e inspirar o ar que me cerca, vendo apenas o azul e verde em meu redor. Os meus passos perdem-se então pela estrada alcatroada que me leva - aonde não sei bem. Olhar e escutar os morcegos ao pôr-do-sol é uma dádiva pela qual muito me regozijo. Eu percebo então como tudo é passageiro e relativo. Quem somos nós para os outros? Vimos do pó e seremos pó. Tenho pena por ser passageira a vida. Ontem foram os nossos avós, hoje somos nós, amanhã serão outros. E tudo vai assim, correndo pelo rio, até à foz. Se assim for, acho que prefiro ser um bloco bem pesado, para me manter próximo da nascente.
Os amigos que possuímos são poucos, não sei bem até que ponto os temos. Mas aqueles que julgo ter são importantes, não o nego. São bastante até.
Quanto às minhas paixões, tenho várias, mas variam consoante o tempo. São incontantes. Começou por ser a história - que ainda está presente, mas em menor importância -, depois a geografia, a meteorologia, a genealogia e finalmente a etimologia.
Há tempos que estava para me apresentar pessoalmente a ti, Constança. Pois aqui fica uma apresentação de uma pessoa possuídora de inconstância.
P.S - Isto é uma tentativa sumária de responder à questão "quem sou eu?". Sinceramente, acho que esta questão acaba muitas vezes por ser apenas retórica, se não mesmo sempre. Mas aqui fica. Perdoa-me o início descontextualizado em relação à pergunta-chave a que me propus responder, mas comecei por querer falar de outros assuntos. Sou melancólico.

2 comments:

iFrancisca said...

és brilhante na tua melancolia

Anonymous said...

O eterno e complexo Alexandre, um EU, diria eu, mais complexo do que o normal. Será que digo isto por teres sido uma das poucas pessoas, aliás, a segunda pessoa que conheci até hoje tão complexa e ao mesmo tempo tão clara naquilo que pretende transmitir?
Sempre me deixaste a pensar, mais numas alturas do que noutras contudo, chego a confessar que nem sempre percebi aquilo em que pensavas, ou aquilo que querias (ou não) dizer. Divagações minhas, provavelmente...
Quando terminei a leitura do teu texto fiquei a refletir, naquilo que a minha vida era e naquilo que é. Nos sonhos que tinha em criança, dos quais concluo que poucos consegui atingir. Uns falhados por opção, outros perdidos por entre as mãos, tomando.
Dizes que os amigos são importantes mas, por vezes, são aqueles que mais indignados nos deixam, são aqueles que sem nos perceber-mos porquê, viram de 'lado', de cor e de feitio. Contudo, há aqueles que permanecem e, que vão sempre permanecer, aqueles que são raros e mostram que não somos em vão.
A vida é curta e, se nós não fizer-mos pelo contrário, os momentos também o são. Tal acontece, sem dúvida alguma, com os amigos.
Alexandre, Alexandre..melancólico? É essa melancolia que te torna 'especial', que te dá esse brilho e faz de ti o ser tão incomum que és (está certo que todos somos diferentes uns dos outros, mas tu consegues sê-lo de uma maneira singular).

Beijinhos com saudades,
Beatriz