Thursday, August 9

Crime do Padre Amaro

Acabei ontem, já tarde, de ler uma das maiores obras de Eça de Queiroz - O Crime do Padre Amaro, publicado pela primeira vez em 1875. Foram feitas posteriormente duas edições com acrescentos e alterações. Foi um livro que me satisfez em todos os sentidos, desde a história em si até à magnífica crítica feita a uma sociedade devota e rural. Tendo como foco o quotidiano da vida do Padre Amaro e de uma família de Leiria e gente das vizinhanças, a ironia e crítica deixada pelo autor é realmente marcante, deixando transparecer o característico ambiente da época, onde uma grande percentagem do povo português se afirmava cristã, praticando uma devoção exagerada e temente aos desígnios de Deus. Não é meu objectivo aqui narrar nem resumir a história, apenas deixar a minha sincera opinião e assim, aconselhar-vos a ler esta obra. .





Prefácio da Segunda Edição de O Crime do Padre Amaro


A designação inscrita no frontispício deste livro - Edição Definitiva - necessita uma explicação.
O Crime do Padre Amaro foi escrito há quatro ou cinco anos, e desde essa época esteve esquecido entre os meus papéis - como um esboço informe e pouco aproveitável.
Por circunstâncias que não são bastante interessantes para serem impressas - este esboço de romance, em que a acção, os caracteres e o estilo eram uma improvisação desleixada, foi publicado em 1875 nos primeiros fascículos da Revista Ocidental, sem alterações, sem correções, conservando toda a sua feição de esboço, e de um improviso.
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Hoje O Crime do Padre Amaro aparece em volume - refundido e transformado. Deitou-se parte da velha casa abaixo para erguer a casa nova. Muitos capítulos foram reconstruídos linha por linha; capítulos novos acrescentados; a ação modificada e desenvolvida; os caracteres mais estudados, e completados; toda a obra enfim mais trabalhada.
Assim, O Crime do Padre Amaro da Revista Ocidental era um rascunho, a edição provisória; o que hoje se publica é a obra acabada, a edição definitiva .
Este trabalho novo conserva todavia - naturalmente - no estilo, no desenho dos personagens, em certos traços da acção e do diálogo, muitos dos defeitos do trabalho antigo: conserva vestígios consideráveis de certas preocupações de Escola e de Partido, - lamentáveis sob o ponto de vista da pura Arte - que tiveram outrora uma influência poderosa no plano original do livro. Mas como estes defeitos provêm da concepção mesma da obra, e do seu desenvolvimento lógico - não podiam ser eliminados, sem que o romance fosse totalmente refeito na idéia e na forma. Todo o mundo compreenderá que - correções, emendas, entrelinhas, folhas intercaladas não bastam para alterar absolutamente a concepção primitiva de um livro, e a sua primitiva execução.

Akenside Tewace -
5 de Julho de 1875.

EÇA DE QUEIROZ




2 comments:

Anonymous said...

(Eu comento isto tudo,enfim..)
Relativamente a este livro, devo dizer que é preciso gostar do Eça para conseguir 'entrar' na sua escrita, sendo que tal acontece com todos os seus livros (por isso é que poucos jovens se dedicam a tal leitura, chegando mesmo a nem 'tentar' ler tudo o que de maravilhoso este escritor nos 'deixou').

Apesar das diversas adaptações que foram feitas para o cinema, engana-se quem julga que tal é fidedigna à obra. Toda a escrita de Eça, sendo esta singular devido às enúmeras enumerações, levam-nos para outra 'dimensão', conseguem-nos colocar a pensar, a imaginar, a sonhar...
Aconselho um artigo referente aos 'Maias' Alexandre, sabes tão bem quanto eu que esse livro merece tal destaque.
Um grande bjnh*

iFrancisca said...

Espero um comentário ao "Primo Basílio". Bjs