Monday, September 24

Poema de Fernando Pessoa




Não sou pessoa de gostar de seguir rebanhos, não me sinto bem a "fazer porque outros fazem". Com isto quero dizer o seguinte: coloco aqui um poema de Fernando Pessoa por estar agora a começar a conhecê-lo, por me aprazer lê-lo e por achar que contêm mensagem. Não por ser moda colocar poemas de Fernando Pessoa ou de outros grandes poetas.












Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é.

Atento ao que eu sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.


in Poesias Inéditas, Ed. Ática, 1973




Quanta gente não haverá por aí, encaixando-se perfeitamente neste poema?

2 comments:

Anonymous said...

o problema de quem nao quer seguir "rebanhos" e que se gaba disso..é que depois em tudo o que faz, tem sempre a preocupação de ver se há mais a fazer o mesmo que ele... que tal fazermos o que nos apetece mesmo que outros milhares o façam desde que nos dê prazer??

Quomodum said...

não me gabo, não me gabei, não me gabarei. Volto a dizer: não gosto de seguir rebanhos. Não tenho preocupação de haver mais gente a fazer o que faço. Apenas acho desnecessário fazer por haver outros que fazem, entendes? Pode haver 1 milhão de pessoas a fazê-lo, que eu farei na mesma...o que interessa é que eu faça por querer e não por ser mais uma ovelha. Espero que tenha ficado compreensível a minha ideia.