Foi poeta singular, sensacionista, símbolo da negação do pensar, da razão. Em todos os seus poemas está presente uma tentativa expressa de ver a realidade com "o olhar" e nunca com a razão. Poder-sé-á considerar este heterónimo como o oposto do ortónimo. Contudo, a temática central é a mesma, apenas observada de um prisma diferente. É, acima de tudo, o poeta da natureza, prosaico e simples na sua linguagem, com uma suavidade surpreendente em todo o seu discurso. Confesso admirador de Cesário Verde, foi também ele admirado pelos restantes heterónimos e Fernando Pessoa ortónimo.
Tu, místico, vês uma significação em todas as cousas.
Para ti tudo tem um sentido velado.
Há uma cousa oculta em cada cousa que vês.
O que vês, vê-lo sempre para veres outra cousa.
Para mim, graças a ter olhos só para ver,
Eu vejo ausência de significação em todas as cousas;
Vejo-o e amo-me, porque ser uma cousa é não significar nada.
Ser uma cousa é não ser susceptível de interpretação.
In Poemas Inconjuntos
Quando tornar a vir a primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a primavera nem sequer é uma coisa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.
In Poemas Inconjuntos
XXXV
O luar através dos altos ramos,
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.
Mas para mim, que não sei o que penso,
O que o luar através dos altos ramos
É, álém de ser
O luar através dos altos ramos,
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos.
In O Guardador de Rebanhos
XIII
Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leva passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.
In O Guardador de Rebanhos
1 comment:
Alguém que tem noção que nada vê... é alguém que já vê muito! =)
grande caeiro.
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