O horizonte tornava-se esbatido agora, os tons alaranjados do poente coloriam as folhas recortadas das árvores que repousavam ao longe, à beira de um ribeiro luzidio e ruidoso que polia as escarpas de um relevo escuro, na sombra. Uma figura passou, a passo lento, apoiada num bastão de madeira velha e carcomida, ofegante, arquejante. O seu andar era custoso, ia em direcção ao pôr do sol. Não consegui vislumbrar perfeitamente as suas feições, apenas uma estrutura já débil, de rugas nas morenas mãos. A sua respiração sonora sentia-se à distância, atormentando a calmaria campestre. Chegou cerca da água do ribeiro, não havia ponte. Tornou-se para trás, num gesto fatigado e forçado, procurou ansiosamente uma alma caridosa que a ajudasse, fixou os olhos em mim. Um brilho lastimoso apoderou-se do seu olhar débil, ouviu-se um som oco de um bastão a atingir o solo. Os seus cabelos flutuaram então pelos meandros do rio, leves e transparentes, para toda a eternidade.
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2 comments:
Lindo!
Damos usos completamente diferentes às palavras..
Sabes o que me poderá fazer rir com gosto um dia?
Transmitirmos exactamente a mesma imagem, mas cada um à sua maneira.
Seria interessante a comparação. Fica lançado o desafio...
escritas diferentes, totalmente diferentes =) bj
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